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segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

A Voz l João Marques Jacinto

A verdade não faz sentido
E não há sentido para a verdade
E o Já
Já foi
O grito do momento ecoa dentro da alma
De onde veio
E há tanto para dizer
Sem que haja palavras para tanto sentir
E nunca se entende a Voz que em nós escutamos
Não há ouvidos para todos os sons
Nem compreensão que decifre todos os dialectos
Mas haverá sempre uma Voz
Para que não nos percamos
Mesmo que surdos nos achemos
E o relógio não pára
Tenha ou não ponteiros
Corda para dar
Ou pilha
Seja ou não relógio
E o tempo voa
Sem ter asas
E nós queremos saber o tempo
Como se houvesse tempo para saber
Queremos saber tanto
Que nos perdemos no saber
Sem escutar a Voz
Pisamos e repisamos
Damos mil e uma voltas antes de assentar
E nunca temos o sossego que nos sossegue
São dias
São noites
Mas não há dias nem noites
Que nasçam
Ou se ponham dentro de nós
Há um vazio imenso
Por preencher
E uma Voz
Uma Voz
O tempo contamos
Porque nos disseram que era para ser contado
A verdade quer-se verdade
Porque é mentira
E mentir é feio
E o feio é feio
Porque há o que é bonito
E ainda o mais bonito
E eu sou o mais belo
Porque tenho medo de ser feio
E que os espelhos me persigam
A comparação é a traiçoeira amiga da verdade
Nega a verdade de ser verdade
Sem a importância de se ser verdadeiro
Tanta razão para o que nunca será razão
Porque não há razão para a razão
A razão serve a dúvida
E a dúvida alimenta a razão
E porque haverá tanta dúvida para toda esta não razão
Haverá certamente uma razão
O tempo é este constante pensar
Que não desliga
Não há relógios para este pensamento
E o Já é ainda mais breve
Quando as palavras se cruzam à razão da luz
Nas profundezas da escuridão de nós
E acabamos sempre por ter dificuldade
Em regenerar o sentido para a Voz

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