Momentos há, em que o silêncio não basta.
É preciso descer mais fundo,
para a parte de nós
que já não aceita versões frágeis da verdade.
O corpo sente primeiro:
como um chamamento firme
que nos obriga a olhar para dentro
sem atalhos.
Há uma força antiga a reorganizar a consciência,
como se tudo o que ficou disperso
pedisse agora um centro,
uma ordem íntima
que não nasce do controlo,
mas da coragem de não fugir.
As emoções aproximam-se devagar,
densas, exatas,
e cada uma traz um nome próprio;
umas pedem reconhecimento,
outras pedem fim,
e nenhuma se cala
enquanto não tocar o que realmente importa.
O pensamento, por sua vez,
limpa o que estava embaciado:
as narrativas gastas,
as memórias que já não explicam nada,
as dúvidas que eram apenas ruído.
A maturidade cresce por dentro
com a paciência da água subterrânea.
Não exige movimento imediato,
mas desloca o que estava preso,
abre passagem
e devolve sentido ao que parecia quebrado.
Há uma sombra que se ergue,
não para assustar,
mas para ser vista.
Traz consigo o impulso de assumir
o que sempre nos acompanhou
mesmo quando fingíamos não sentir.
E no meio desta gravidade lúcida,
há também um impulso mais leve,
um pensamento que se solta
e aponta para longe,
para a ideia de um caminho que não se fecha aqui.
Tudo se afunila num ponto interior,
onde se decide, sem pressa,
o que merece continuar
e o que precisa finalmente de ser deixado para trás.
Porque a verdadeira transformação
não chega como um corte,
mas como a certeza tranquila
de que algo mudou para sempre
mesmo antes de podermos dar-lhe nome.
(Poema inspirado nos aspetos astrológicos, do mapa
levantado para o dia 18 de novembro de 2025, calculado para Greenwich,
traduzindo em linguagem poética as energias simbólicas que atravessam o tempo e
o espírito humano.)
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