I. O Som Silencioso
Há um som que não nasce do ar,
nem vibra em cordas, nem precisa de ouvido.
É o som que sustenta todos os sons,
a respiração que antecede o sopro.
Escuta,
não o vento, nem o pássaro,
nem o pulsar do sangue nas veias.
Escuta o espaço entre eles,
o que permanece quando tudo se cala.
Não o busques.
O som silencioso não se revela ao desejo,
mas à entrega.
Ele surge quando o pensar adormece
e o ser recorda o que é.
Fecha os olhos,
deixa que o corpo te encontre,
sente a Terra a inspirar contigo,
o cosmos a expirar no teu peito.
Entre ambos, há um ponto imóvel,
é aí que o som habita.
Quando o ouvires,
não tentes guardá-lo.
Ele não pertence ao tempo
nem à memória.
É o murmúrio do eterno
a passar por ti,
lembrando-te que também és
parte do seu silêncio.
II. Oração ao Som Silencioso
Silêncio que antecede o verbo,
acolhe-me no teu centro imóvel,
despe-me do ruído,
das vozes que fingem saber quem sou.
Faz de mim espaço aberto,
onde o sopro antigo possa voltar a cantar.
Que o nome que vibra em segredo
se reconheça em cada respiração.
Se for luz, que me ilumine sem ferir,
se for sombra, que me ensine sem medo,
se for nada, que esse nada baste.
Deixo cair o querer, o julgar, o provar,
ficando apenas a ouvir o que não tem som.
E nesse ouvir, recordo:
sou o que sempre foi.
III. Mantra do Som Silencioso
Sou silêncio antes do verbo,
sou sopro sem nome,
nada busco, apenas escuto.
No centro do ser, tudo vibra,
e o que vibra… sou eu.
(“O Som Silencioso” nasceu de uma escuta interior, daquela vibração que
antecede o pensamento e sustenta toda a criação. Não é um som que se ouve, mas
que se reconhece. É o espaço onde o ser se recorda do que sempre foi. Estes
três textos, poema, oração e mantra, formam um único gesto: o retorno ao
silêncio primordial, onde o verbo encontra a sua fonte e o nome interior começa
a respirar.)
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