Introdução
Este conjunto de sete poemas é uma reflexão sobre a
presença, a consciência e a subtileza do existir. Cada poema explora o encontro
entre o corpo, a mente e o mundo, mostrando que perceber é, antes de tudo,
sentir. O silêncio, o gesto, o olhar e a respiração tornam-se pontes para o que
é invisível, mas fundamental.
Aqui, o instante não se mede, o espaço não se prende,
e a vida revela-se naquilo que não se nomeia. Cada poema é uma tentativa de
captar o movimento contínuo entre o ser e o mundo, entre o toque e o toque
sentido, entre o olhar e o que ele deixa passar.
1 - O Eco do Ser
O corpo caminha sem pressa,
mas sente cada chão que pisa;
não há distância entre mão e espaço,
entre respiração e instante que se dobre.
O mundo não espera,
mas se inclina diante de quem escuta,
e cada gesto contém uma história não contada,
e cada olhar carrega o peso do invisível.
Não é olhar para compreender,
é deixar que o mundo toque,
e perceber que tocar é ser tocado.
No silêncio do movimento,
o ser encontra-se inteiro
na simplicidade de existir
sem nomear, sem prender,
apenas sendo.
2 - O Corpo como Horizonte
O corpo não se limita à pele,
ele é ponte, estrada, margem,
sente o sopro que atravessa a cidade
e o peso da chuva que não cai em vão.
Cada passo é consciência,
cada gesto, um mapa silencioso
onde o ser e o mundo se encontram
sem precisar de palavras.
No toque do chão, no arranhar do vento,
aprendemos que o horizonte não está distante,
está dentro de nós,
a expandir-se em cada respiração.
3 - A Simplicidade do Agora
Nada precisa ser controlado,
nenhum instante precisa ser contido.
O mundo se verga àqueles que se deixam levar
pela leveza de existir.
O silêncio não é vazio,
é plenitude que se revela no gesto simples:
um olhar, uma mão estendida,
um passo sem pressa.
Cada instante guarda o universo inteiro,
e a vida acontece
não porque a entendemos,
mas porque nos permitimos ser
parte do que já é.
4 - O Eco Interior
O corpo sabe antes da mente,
sente a sombra que ainda não caiu,
a luz que ainda não chegou.
O pensamento é apenas uma ponte,
um fio que liga o gesto ao invisível,
a perceção ao eco do instante.
O espírito não se impõe,
ele sussurra, revela-se
no calor da mão, na inclinação do corpo,
no ar que se move quando respiramos juntos.
Tudo acontece no silêncio do que intui,
onde ser, sentir e existir
não são ações separadas,
mas um só sopro que atravessa o tempo.
5 - O Espaço que Respira
No silêncio entre o respirar e o exalar,
o mundo se desenha sem forma.
Não há começo nem fim,
apenas o instante que se faz presença.
O vazio não espera, não julga,
só sustenta o que surge,
o que passa,
o que se rende para existir.
E no eco das pequenas ações,
o ser se reconhece inteiro,
sem precisar prender
o movimento da vida.
6 - A Ponte Invisível
Cada gesto atravessa o nada
como uma ponte sem corrimão,
não se mede, não se pesa,
só se percorre com cuidado.
O tempo dobra-se ao instante,
o espaço se curva à presença,
e mesmo quando a forma desaparece,
o toque do ser permanece,
subtil, sem nome, sem dono.
7 - O Olhar que Permite
O olhar não captura,
não aprisiona,
só deixa passar.
Tudo se mostra quando se permite
que o mundo seja mundo,
sem interferência do querer.
No entrelaçar do sentir e do ver,
o silêncio cresce,
e o ser encontra-se
naquilo que sempre esteve lá,
quieto, esperando ser notado.
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