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terça-feira, 4 de novembro de 2025

Entre o Ser e o Silêncio

Introdução

 

Este conjunto de sete poemas é uma reflexão sobre a presença, a consciência e a subtileza do existir. Cada poema explora o encontro entre o corpo, a mente e o mundo, mostrando que perceber é, antes de tudo, sentir. O silêncio, o gesto, o olhar e a respiração tornam-se pontes para o que é invisível, mas fundamental.

Aqui, o instante não se mede, o espaço não se prende, e a vida revela-se naquilo que não se nomeia. Cada poema é uma tentativa de captar o movimento contínuo entre o ser e o mundo, entre o toque e o toque sentido, entre o olhar e o que ele deixa passar.

 

 

 

 

1 - O Eco do Ser

 

O corpo caminha sem pressa,

mas sente cada chão que pisa;

não há distância entre mão e espaço,

entre respiração e instante que se dobre.

 

O mundo não espera,

mas se inclina diante de quem escuta,

e cada gesto contém uma história não contada,

e cada olhar carrega o peso do invisível.

 

Não é olhar para compreender,

é deixar que o mundo toque,

e perceber que tocar é ser tocado.

 

No silêncio do movimento,

o ser encontra-se inteiro

na simplicidade de existir

sem nomear, sem prender,

apenas sendo.

 

 

 

 

2 - O Corpo como Horizonte

 

O corpo não se limita à pele,

ele é ponte, estrada, margem,

sente o sopro que atravessa a cidade

e o peso da chuva que não cai em vão.

 

Cada passo é consciência,

cada gesto, um mapa silencioso

onde o ser e o mundo se encontram

sem precisar de palavras.

 

No toque do chão, no arranhar do vento,

aprendemos que o horizonte não está distante,

está dentro de nós,

a expandir-se em cada respiração.

 

 

 

 

3 - A Simplicidade do Agora

 

Nada precisa ser controlado,

nenhum instante precisa ser contido.

O mundo se verga àqueles que se deixam levar

pela leveza de existir.

 

O silêncio não é vazio,

é plenitude que se revela no gesto simples:

um olhar, uma mão estendida,

um passo sem pressa.

 

Cada instante guarda o universo inteiro,

e a vida acontece

não porque a entendemos,

mas porque nos permitimos ser

parte do que já é.

 

 

 

 

4 - O Eco Interior

 

O corpo sabe antes da mente,

sente a sombra que ainda não caiu,

a luz que ainda não chegou.

 

O pensamento é apenas uma ponte,

um fio que liga o gesto ao invisível,

a perceção ao eco do instante.

 

O espírito não se impõe,

ele sussurra, revela-se

no calor da mão, na inclinação do corpo,

no ar que se move quando respiramos juntos.

 

Tudo acontece no silêncio do que intui,

onde ser, sentir e existir

não são ações separadas,

mas um só sopro que atravessa o tempo.

 

 

 

 

5 - O Espaço que Respira

 

No silêncio entre o respirar e o exalar,

o mundo se desenha sem forma.

Não há começo nem fim,

apenas o instante que se faz presença.

 

O vazio não espera, não julga,

só sustenta o que surge,

o que passa,

o que se rende para existir.

 

E no eco das pequenas ações,

o ser se reconhece inteiro,

sem precisar prender

o movimento da vida.

 

 

 

 

6 - A Ponte Invisível

 

Cada gesto atravessa o nada

como uma ponte sem corrimão,

não se mede, não se pesa,

só se percorre com cuidado.

 

O tempo dobra-se ao instante,

o espaço se curva à presença,

e mesmo quando a forma desaparece,

o toque do ser permanece,

subtil, sem nome, sem dono.

 

 

 

 

7 - O Olhar que Permite

 

O olhar não captura,

não aprisiona,

só deixa passar.

Tudo se mostra quando se permite

que o mundo seja mundo,

sem interferência do querer.

 

No entrelaçar do sentir e do ver,

o silêncio cresce,

e o ser encontra-se

naquilo que sempre esteve lá,

quieto, esperando ser notado.

 

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