segunda-feira, 22 de março de 2010
Fingidor
Escrevo-me
todos os dias,
e passo-me a limpo
para o papel,
quando tenho tempo
para fingir de poeta.
A minha caneta
está esgotada
de tanta dor
e sem tinta.
João Jacinto
in
(Re)cantos da Lua
Moeda
domingo, 21 de março de 2010
A Grande Águia
Hoje, o poeta criou,
e não só a norte
se cumpriu primavera.
A poesia
soou, por entre (re)verso
de Sombra;
egoísmo e medo,
e poema feito de amor
e venceu em seu esplendor
como liberdade,
humana
e floriu no mundo
como esperança.
E a grande águia
continuará o seu voo
(re)desenhando o céu
e a palavra,
a (r)evolução.
Hoje, Dia Mundial Da Poesia, dedico este pequeno poema, ao Nobel da Paz, Barack Obama, e à sua intenção em beneficiar 32 milhões de norte-americanos, pelas reformas socais; o direito à saúde, também, hoje, por ele defendidas no Senado. Esperando que obtenha os votos suficientes, para o bem de todos, para que se cumpra primavera e a poesia floresça no mundo como esperança, e seja um exemplo de humanismo e de democracia.
sexta-feira, 19 de março de 2010
Eternas crianças

E seremos eternas crianças.
O que mais dói é crescer
e a consciência.
O sonho
prende-nos à vida
para que
emerjamos
do que tanto
nos magoa,
e atemoriza,
e sejamos
também corrente
e ondas,
neste mar de todos,
iludidos de felicidade
e (re)criados à perfeição,
e fado...
Ninguém é inocente.
E seremos eternas crianças;
algumas são distraídas,
e outras mais espertas.
terça-feira, 9 de março de 2010
Mortais pecados
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Olho-me ao espelho debruado a talha
Luminosamente esculpida dourada
Luminosamente esculpida dourada
E pergunto-me pelo espanto das respostas
Na assumida personagem de rainha má
Quem sou para o que dou quem me dá
Na assumida personagem de rainha má
Quem sou para o que dou quem me dá
Miro-me na volumetria das imagens
Cobertas por peles enrugadas
Vincadamente marcadas por exageros expressivos
De choros por entre risos
Plantados nos ansiosos ritmos do tempo
Profundos e negros pontos
Poros de milimétricos diâmetros
Sombras cinzentas
Castanhos pêlos
Brancas perdidas entre cabelos
Perfil de perfeita raiz de grego
Boca carnuda gretada de secura
Sedenta de saudosos e sugados beijos
De línguas entrelaçadas
lambidelas bem salivadas
Contemplo-me fixado no meu próprio olhar
De cor baça tristeza
Desfocando a máscara de pálido cansaço
E não resisto ao embaraço de narciso
Sou o deus que procurei e amei em cumprimento do milagre
Ou o mal que de tanto me obrigar não reneguei
Cobertas por peles enrugadas
Vincadamente marcadas por exageros expressivos
De choros por entre risos
Plantados nos ansiosos ritmos do tempo
Profundos e negros pontos
Poros de milimétricos diâmetros
Sombras cinzentas
Castanhos pêlos
Brancas perdidas entre cabelos
Perfil de perfeita raiz de grego
Boca carnuda gretada de secura
Sedenta de saudosos e sugados beijos
De línguas entrelaçadas
lambidelas bem salivadas
Contemplo-me fixado no meu próprio olhar
De cor baça tristeza
Desfocando a máscara de pálido cansaço
E não resisto ao embaraço de narciso
Sou o deus que procurei e amei em cumprimento do milagre
Ou o mal que de tanto me obrigar não reneguei
Sou o miraculoso encantador a quem me dei
Ou a raposa velha vaidosa vestida de egoísta
Com estola de alva ovelha falsa de altruísta
No meu lamento a amargura por que matei
Sangrando a vítima trucidei-a num ranger de molares
Saboreei com as gustativas variados paladares
Viciado no prazer da gula
Como instintivo porco
Omnívoro
Rezo baixinho cantarolando
Beatas ladainhas de pecador
Que rouba e se perdoa
A cem anos de encarceramento
No aliciamento cobiçante por belas coxas
Pertença de quem constantemente me enfrenta
Competindo com as mesmas forças
Traindo-me na existência de meu possuir
Viradas as costas acabamos sempre por fingir
Entendo velhos e sábios ditados
Não os querendo surdinar em consciência
Penso de mim a importância demais
Que outros possam entender
Como comuns mortais
Que rouba e se perdoa
A cem anos de encarceramento
No aliciamento cobiçante por belas coxas
Pertença de quem constantemente me enfrenta
Competindo com as mesmas forças
Traindo-me na existência de meu possuir
Viradas as costas acabamos sempre por fingir
Entendo velhos e sábios ditados
Não os querendo surdinar em consciência
Penso de mim a importância demais
Que outros possam entender
Como comuns mortais
Minha é a inteligente certeza
De querer enganar e vencer
Sadicamente esbofeteio rechonchuda face
De idealista tímido
Que acredita e se deixa humilhar
Dá-me a outra para também a avermelhar
Vendo-me a infinitas e elegantes riquezas
Luxúrias terrenas orgias bacantes incestuosas
Sedas glamour jóias preciosas
O que tenha etiqueta de marca
Marcantemente conotada
Que pavoneie a intensa profundidade de minha alma
Ah Ah
Salvas rebuscadas brilhantes de prata pesadas
Riscadas de branco e fino pó
Prostituo-me ao preço da mais valia
Excita-me de travesti Madalena
Ter um guru para me defumar benzer e perdoar
Sem que me caia uma pedra na cauda
Excita-me de travesti Madalena
Ter um guru para me defumar benzer e perdoar
Sem que me caia uma pedra na cauda
Adoro o teatro espectacular
Encenado e ensaiado em vida
Mas faço sempre de pobre amador
Sendo um resistente actor
Mas faço sempre de pobre amador
Sendo um resistente actor
Escancaro a garganta para trautear
Sem saber nem sequer solfejar
E gargarejo a seiva da videira
Que me escorre pelo escapismo de meu engano
Querendo audaciosamente brilhar
Descontrolando o encarrilhar do instrumento das cordas da glote
Com o do fole pulmonar
E desafino o doce e melódico hino
Sou no vedetismo a mediocridade
Que se desfaz com o tempo
Até ser capaz de timbrar sem ser pateado
Acelero nas viagens que caminham até mim
Fujo do lento e travo demais
Curvas perigosas apertadas
Que me adrenalina na fronteira do abismo
Fujo do lento e travo demais
Curvas perigosas apertadas
Que me adrenalina na fronteira do abismo
Fumo bebo em excesso
E converso temas banais por entre ondas móveis
Que me encurtam a pomposa solidão
Mas nada é em vão
Tenho na dicção um tom vibrado e estudado
De dizer bem as palavras que sinto
Mas premeditadamente minto
E digo de propósito sempre o errado
Sou mal-educado demasiado carente enfadonho
Que ressona e grunhe durante o sono
Tenho sempre o apressado intuito do saber
De querer arrogantemente chamar a atenção
Por me achar condignamente o melhor um senhor
Sem noção do que é a razão e o ridículo
Digo não quando deveria pronunciar sim
Teimosamente rancoroso tolo alucinado perverso mal-humorado
Vejo em tudo a maldade do pecado
E converso temas banais por entre ondas móveis
Que me encurtam a pomposa solidão
Mas nada é em vão
Tenho na dicção um tom vibrado e estudado
De dizer bem as palavras que sinto
Mas premeditadamente minto
E digo de propósito sempre o errado
Sou mal-educado demasiado carente enfadonho
Que ressona e grunhe durante o sono
Tenho sempre o apressado intuito do saber
De querer arrogantemente chamar a atenção
Por me achar condignamente o melhor um senhor
Sem noção do que é a razão e o ridículo
Digo não quando deveria pronunciar sim
Teimosamente rancoroso tolo alucinado perverso mal-humorado
Vejo em tudo a maldade do pecado
Digo não quando deveria embelezar a afirmação
Minto digo e desfaço-me propositadamente em negação
Mas fiz a gloriosa descoberta do meu crescer
Tenho uma virtuosa e única qualidade
Alguém paciente gosta muito de mim
Obrigado
Tenho que descansar
João M. Jacinto
in
(Re)cantos da Lua
domingo, 7 de março de 2010
Fui criança
Escadas


Olha-os, lá de cima,
onde habitas
transitoriamente
na tua evolução.
Não percas tempo
no degrau
por ti, já pisado,
no longínquo passado.
Eleva-te com firmeza
no lance seguinte.
Apoia-te no corrimão,
alcança o patamar
e abre essas portas
de provações trancadas.
Que mania
de descer e subir
escadas...
João M. Jacinto
in (Re)cantos da Lua
Fotos
"DE COMO SER", espectáculo pela Oficina Permanente do Ator da UFSC, Brasil, sob a Direcção Artística de Carmen Fossari (Dezembro 2006). "Escadas" foi um dos poemas escolhidos de João M. Jacinto, assim como "Fui Criança", que serviram como texto base à interpretação dos actores.
sábado, 6 de março de 2010
(Re)começo
Espero que um outro Maio,
mas com gosto a Abril,
ou que um outro Abril,
de esperanças de (re)começo,
se cumpra
por ordem dos ciclos,
e faça de todos nós
inteira primavera,
e possamos todos de pé,
desenhar outro caminho
floridos de humanidade,
(re)construídos de sentido...
A mudança espreita,
lá, do fundo da noite,
encoberta,
como trovão por retumbar,
impelida de (r)evolução.
Abalarão todas as estruturas,
e o poder
dos arrogantes,
dos auto-indulgentes,
simplesmente ruirá,
assim como todas as dores,
males
e (des)enganos,
dos infelizes,
terão o seu terminus...
Será outro,
e breve,
o refrão,
deste Lusitano fado,
a ser cantado:
Portugal, Portugal, Portugal!
(21Abr.2009)
José Heitor Santiago
in
Dia do Sol
http://diadosol.blogspot.com
Conquisto-me
Convicto,
em esforço,
conquisto,
a toda a hora
a realidade
que me faça feliz,
e não mais teimarei,
por capricho, a fuga,
pelas (des)ilusões,
nem os aprisionamentos
em silencioso sacrifício
aos deveres,
sustentados pela culpa...
Espero
que a liberdade,
me invada,
e eu, a saiba habitar,
e quebre
com todas as rotinas
que têm servido
de contraponto
ao medo do caos,
e me (re)componha
em consonância...
Convicto,
em esforço,
conquisto-me.
(Aqui contigo, à mesa de uma cafetaria, entre amigável conversa, alguns cafés e muitos cigarros, num ponto alto de Lisboa).
em esforço,
conquisto,
a toda a hora
a realidade
que me faça feliz,
e não mais teimarei,
por capricho, a fuga,
pelas (des)ilusões,
nem os aprisionamentos
em silencioso sacrifício
aos deveres,
sustentados pela culpa...
Espero
que a liberdade,
me invada,
e eu, a saiba habitar,
e quebre
com todas as rotinas
que têm servido
de contraponto
ao medo do caos,
e me (re)componha
em consonância...
Convicto,
em esforço,
conquisto-me.
(Aqui contigo, à mesa de uma cafetaria, entre amigável conversa, alguns cafés e muitos cigarros, num ponto alto de Lisboa).
sexta-feira, 5 de março de 2010
Uma maçã que estava proibida
Sobreviver,
luta de cada um.
Não deixar morrer,
lema de todos.
E o corpo envelhece,
naturalmente,
depois de comprometida
a performance
à continuidade.
E até Deus,
pela boca dos homens
estimula,
não o amor
da linguagem dos corpos,
mas antes a procriação.
A insegurança
é filha da contradição
e do medo,
e a mente questiona-se
desde que alguém
provou, corajosamente,
uma maçã
que estava proibida.
luta de cada um.
Não deixar morrer,
lema de todos.
E o corpo envelhece,
naturalmente,
depois de comprometida
a performance
à continuidade.
E até Deus,
pela boca dos homens
estimula,
não o amor
da linguagem dos corpos,
mas antes a procriação.
A insegurança
é filha da contradição
e do medo,
e a mente questiona-se
desde que alguém
provou, corajosamente,
uma maçã
que estava proibida.
quarta-feira, 3 de março de 2010
Ilusor
Nunca me senti poeta,
no entanto gosto de escrever,
brincar com as palavras;
gosto de as ouvir gritar
quando me calo,
e de as (re)ler
para que me escute!...
Não sou poeta,
faço terapia quando versejo,
enquanto o mundo, lá fora,
andas às cambalhotas.
Às vezes, me pergunto
que fuga é esta,
que caminho é este,
o das palavras,
e se sou a cigarra
ou a formiga,
se escrevo por que devo,
se ambiciono, por escrever,
se gosto de poesia
ou mais de mim, poeta?...
E nunca me respondi;
continuo a querer ser poeta,
a acreditar-me, como pai,
para que me retarde
ao fim,
e ilusor da natureza...
(Este poema é uma resposta, sim, à poeta Carmen Fossari; à sua amável crítica poética/literária.)
no entanto gosto de escrever,
brincar com as palavras;
gosto de as ouvir gritar
quando me calo,
e de as (re)ler
para que me escute!...
Não sou poeta,
faço terapia quando versejo,
enquanto o mundo, lá fora,
andas às cambalhotas.
Às vezes, me pergunto
que fuga é esta,
que caminho é este,
o das palavras,
e se sou a cigarra
ou a formiga,
se escrevo por que devo,
se ambiciono, por escrever,
se gosto de poesia
ou mais de mim, poeta?...
E nunca me respondi;
continuo a querer ser poeta,
a acreditar-me, como pai,
para que me retarde
ao fim,
e ilusor da natureza...
(Este poema é uma resposta, sim, à poeta Carmen Fossari; à sua amável crítica poética/literária.)
segunda-feira, 1 de março de 2010
Marinheiro



Ancoro-me aos teus desejos,
defendido de naufrágio,
sem leme aos sonhos,
nem velas de coragem,
puxado à força de preia-mar.
Nascem-me asas no dorso,
ao fogo de em ti
livremente ter poiso
e ser-te igual em confiança,
na serena brisa de qualquer entardecer.
Ungido pela doçura dos néctares,
perfumado pelas fragrâncias
das primaveras prometidas,
debruço-me no regaço do teu sorriso
e leio-te nos gestos poemas;
em chamas de rimas,
de amor em flor,
de vida,
a transbordar as margens
aos rios de tua voluptuosidade...
E exploro os mistérios sagrados do universo
no terno e eterno brilho
do teu complacente olhar...
Que sejam teus braços
um xaile sem penas
para me reconfortar
e proteger dos medos,
e que do teu corpo
se abra a porta de meu fortalecido ser
até crescer manhã,
sem que nunca se faça tarde.
E possa eu,
marinheiro,
fazer-me de novo ao mar...
Fotos;
Poema Marinheiro de João M. Jacinto, in VERBAIS NINHO DE PALAVRAS, represendado pelos actores Eliana Bär, Gabriel Orcajo, Mariana Lapolli e Augusto Sopran, da UFSC/Teatro, Brasil, sob a direcção artística de Carmen Fossari (Julho 2009).
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