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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Não sei se sei escrever

Não sei
se sei escrever.
Gosto do que as palavras me dizem,
e faço jogos com elas,
e até mesmo amor,
quando me seduzem
e me vêm ao pensamento
com afabilidade.
E esforço-me
para que todos me entendam
e ouçam as palavras
que escrevo,
minhas são, certamente,
e o sentido que lhes quis dar,
naquele preciso momento,
em que exactamente as escrevi,
como, com meiguice, as trabalhei,
nunca levianamente as usando,
sem pensar de acordo com o sentir,
e com tudo o que penso,
e sonho,
e amo...
Querendo-as sempre muito, dividir,
com os que também pensam,
e têm sonhos,
e me escrevem.
Ou também, e por que não,
com aqueles
que ainda não sabem pensar por si,
vivem o sonho errado
ou o de outros,
que não encontram o caminho das palavras,
nem se lembram,
nem de escrever,
nem sequer de falar alto,
nem de olhar ao espelho...
Não sei
se sei escrever.
Acho que já soube,
não me lembro.
Mas certamente já escrevi muito,
ou muitos lutaram por me escrever,
sem que os lesse o suficiente,
nem os ouvisse,
e outros morreram
pelo atrevimento de sua escrita,
e outros só muito mais tarde,
tão tarde, que nunca em vida o souberam,
foram (re)conhecidos
pelo que despertaram...
Mas, sinto-me impelido a isto,
de juntar palavras.
Repetitivamente mergulho-me
e pressinto-me,
mas é tão difícil ir fundo e tão longe...
E apanho palavras de fragmentos de histórias,
já escritas, à minha espera,
sem eu saber,
e vejo-me entre multidões,
que me falam, mas nada entendo,
e no meio, animais que nunca vi,
e todos me olham perplexos,
e todos sem querer me assustam,
talvez por não saber
ao certo onde ando,
nem onde fica a minha casa...
E rapidamente fujo
e reconstruo-me, (re)criando histórias,
com as minhas palavras,
e assim materializo o espírito
e sinto-me vivo,
e iludido,
e seguro no meio
de tantas palavras felizes,
e de todos os que conheço e amo...
Não sei
se sei escrever.
Mas por entre a inocência
dos vocábulos,
soletro baixinho
a frieza do silêncio de mim,
e reescrevo-me, até sempre,
até que a caneta se gaste
e haja futuro,
e um espaço em branco
neste meu papel.

Não sei
se sei escrever
tudo o que sei
e não sei.

2 comentários:

  1. Olá, obrigado pelo comentário. Fico sem palavras. Já adicionei o seu blog na minha lista. Deixo um abraço e continuação de bons escritos.
    JOrge

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  2. João
    As vezes o poeta sabe que sabe escrever e seduzido pela palavra prossegue navegando os atalhos aonde os meandros do Ser adormecem pelo Estar longe da sintonia da essencia.
    Profundo, abrangente em dizeres não o saber do saber, um jogo aparente de trocadilho de palavras inocentes mas que surpreendentes evocam a complexa escritura do Ser. Parabéns á quem soube escrever que não sabe se sabe escrever e não o sabendo, soube, sabe!
    ... Bjs
    Carmen

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