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terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Sol de Todos | João Marques Jacinto


Há Uma Lua em Nós,
que outrora nascera
e era dia,
mergulhada num pântano
cerrado de medos e (des)ilusões.
E nela, espelha-se  
abaixo do horizonte,
já posto,
o Tempo enraizado,
firme na convicção
de que perdurará aquele momento.
A Lua quase apagada
de tanto morrer
é surpreendida com o tempo do Tempo
que se desprendeu da terra do ouro
para lhe tocar com uma noite quente
e um último beijo.
E fundem-se na inquietude,
para que se salvem almas
e um novo Tempo descenda.

Tudo tem um termo
para que haja a sorte
do Sol de todos.


24-06/22-07

Parabéns | João Marques Jacinto

 

Estar Vivo
de força
de esperança
de alegria
de sonho
de vida…
E ter na coragem
o entendimento do tempo
com a sabedoria 
da eterna juventude.

Parabéns;
com amor e vida!

O que é isso... | João Marques Jacinto

 O que é isso de se ter consciência

Ou o Inconsciente


Dolorosa é a devaneação de se atingir felicidade
Sempre como meta futurível
Sem que se lá chegue jamais
Esmar magnificente
E considerar ímpar
Sem que se saiba a razão dos indetermináveis limites

Somente o Homem
Se espreita num qualquer espelho
Sem que se consiga alguma vez ver
E assentir
E no território da existência
Bem demarcadas estão as fronteiras pelos seus sentidos 

O que é isso de se ter consciência
Ou o Inconsciente

Se sabeis
Então dizei-me 

sexta-feira, 8 de julho de 2022

No Brasil | João Marques Jacinto

No Brasil,

a miséria não mora na favela,

mas sim na ignorância dos que se pensam ricos,

só porque vivem fora dela.

Pobre, Brasil,

como se o povo não fosse só Um.

Há quem se inspire | João Marques Jacinto

 há quem se inspire

no amor de outros

e estremeça,

na esperança de tempo perfeito,

ao encontro do Amor

dos seus sonhos.

mas, não há príncipes

para todas as Bela Adormecida

e o Tempo não se narra.

já a maçã é colhida

sempre da mesma árvore.

O mundo é pequeno | João Marques Jacinto

 o mundo é pequeno

mais pequeno é o meu

tão pequeno

que me vejo cada vez menos

porque cada vez mais não o entendo

e subtraído sou lentamente por ele

há cada vez menos ruas

de casas alegres e afáveis

e os dias são triste como de Inverno

ou até parece ser em mim sempre sábado

Se melhor me quiseres conhecer I João Marques Jacinto

se melhor me quiseres conhecer

vai ao sítio onde nasci e vivi

e também às escolas onde andei

fala com a minha mãe

pergunta pelo meu pai

e indaga de igual modo sobre os pais dos meus pais
procura os meus irmãos

vê que amigos escolhi

descobre os filhos que criei

interessa-te pelas viagens que fiz

sabe dos livros que li

averigua sobre quem tanto amei

e igualmente me desiludiu

assim me construi

desde o primeiro sopro

sim tudo isso sou eu

e mais o que ainda possas pesquisar

uma infinidade de coisas

e logo a razão te ditará

o que se segue

até à extremidade de toda a solidão

Nem sempre... | João Marques Jacinto

 nem sempre se entende o que se sente

nem sempre se consegue dizer o que se sente

nem sempre é compreensível quando se diz o que se sente

nem sempre há palavras que cheguem para tanto do que se sente

nem sempre num só momento há justificação suficiente para o que nele se sente

nem sempre se sabe qual o tempo das memórias do que se sente

nem sempre se sente o que se sente

e valerá a pena quando já nada nos sente

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

A Voz l João Marques Jacinto

A verdade não faz sentido
E não há sentido para a verdade
E o Já
Já foi
O grito do momento ecoa dentro da alma
De onde veio
E há tanto para dizer
Sem que haja palavras para tanto sentir
E nunca se entende a Voz que em nós escutamos
Não há ouvidos para todos os sons
Nem compreensão que decifre todos os dialectos
Mas haverá sempre uma Voz
Para que não nos percamos
Mesmo que surdos nos achemos
E o relógio não pára
Tenha ou não ponteiros
Corda para dar
Ou pilha
Seja ou não relógio
E o tempo voa
Sem ter asas
E nós queremos saber o tempo
Como se houvesse tempo para saber
Queremos saber tanto
Que nos perdemos no saber
Sem escutar a Voz
Pisamos e repisamos
Damos mil e uma voltas antes de assentar
E nunca temos o sossego que nos sossegue
São dias
São noites
Mas não há dias nem noites
Que nasçam
Ou se ponham dentro de nós
Há um vazio imenso
Por preencher
E uma Voz
Uma Voz
O tempo contamos
Porque nos disseram que era para ser contado
A verdade quer-se verdade
Porque é mentira
E mentir é feio
E o feio é feio
Porque há o que é bonito
E ainda o mais bonito
E eu sou o mais belo
Porque tenho medo de ser feio
E que os espelhos me persigam
A comparação é a traiçoeira amiga da verdade
Nega a verdade de ser verdade
Sem a importância de se ser verdadeiro
Tanta razão para o que nunca será razão
Porque não há razão para a razão
A razão serve a dúvida
E a dúvida alimenta a razão
E porque haverá tanta dúvida para toda esta não razão
Haverá certamente uma razão
O tempo é este constante pensar
Que não desliga
Não há relógios para este pensamento
E o Já é ainda mais breve
Quando as palavras se cruzam à razão da luz
Nas profundezas da escuridão de nós
E acabamos sempre por ter dificuldade
Em regenerar o sentido para a Voz

O Eus maior l João Marques Jacinto



Passei por mim
E olhei sem que me visse
E esperei pelo momento
Que sabia já ter acontecido
Como se me quisesse esquecer para sempre
E ou sustentá-lo pela última vez
Volto amiudadas vezes
Como se fosse possível suspender tudo antes de me ver
E conseguisse mudar o enredo nesse lugar
E com aquela gente
No preciso tempo do mais marcado silêncio

Sempre me foi rogado sem que houvesse palavras exatas
Ou vozes bem-ditas 
Que nunca interrompesse antes de parar
E somente estivesse atento ao que decorria
Sem que interferisse
Mas todo o engano me seria profícuo
Nunca me confiasse aos deuses nascidos do Homem
Porque haveria de ser um dia mais tarde Ele
E Nele também eu o deus
Erguesse pela imoralidade da moral
E jamais fugisse de nada apenas por mim
Confiasse sim nos instintos
E na sua prima e refectiva energia
Lhes desse as virtudes que me satisfizessem
E alegrasse assim toda a Natureza
Porque Dela e de mim
Tudo viria a ser o bem possível

E um muro alto foi realizado
Por cada dia que me levantava
E uma grande fogueira fora acesa
Para que me entretece a olhar as labaredas
E pouco pensasse sobre depois
E o que também sucedera antes do depois
E do que não conseguia recordar
Mas em mim sentia
Sem que entendesse o que sentia
Esquecesse de mim no outro lado
Voltado para a cegueira
Entre o escuro
E o que levaria à(s) Sombra(s)
Entre o imperecível aprisionamento que gera a ignorância
E a imperícia de me ver livre e são
Entre o desejo de sair da caverna do obscurecimento perpétuo
E a trepidez de ter de volver por não conseguir jamais abeiçar luzência

Não há triste sorte para quem se sente no que é
E mais quer ser por si apenas desejar
E em si crer

E porque ainda somos o que outros foram
E outros que hoje também persistem em ser
Mais seremos pelo que (nos) fizermos
Na mais concludente harmonia de solidão
O Eus maior do que vive
E certamente virá o tempo em que será

Maquiavelismo pacóvio l João Marques Jacinto

Podes saber deveras
Mas nunca preverás que chegue
Enquanto bravateares
E nada conceberes ouvir
Porque essa avidez jamais assentirá
Do que ainda há para ser dilucidado

Não possibilites às frustrações
Que te cerrem e obstruam a lucidez para com os vivos
E não digas dos outros
O que imperfeitamente de ti resulta
É obsceno como olhas para o teu inimigo
(o infesto habita adicto em ti)
E cobiças a coroa que supuseste nele
A que se ajustaria com esmero no cimo de teu poderio
Ainda crês na tua proficiência
Quando sempre maior foi a pretensão
Do que assistir
Insciente de te deixares temonar
Por aquele que mereceu e lidera o mar

Há por aí maliciosas vozes
Maliciosas
Palavras maliciosas
Maliciosamente cuspidas
No âmago de quem acoitou
Em que a discórdia não age de testa à vontade
Fazem timbrar-se nos escombros obscuros
Da cegueira dos puros
É claro
Está iminente minar as certezas construídas
Engendrar o apavoramento
Cursar maledicência
Exclamar vãos prometimentos
Vozes de quem nada inda demonstrou

E no desnorteio do que se possa forjar para engodar
Para que se venha a auferir o assento e a urbe
E o domínio
E imperar
Com demais sobrantes
Os desempregados deste maquiavelismo pacóvio
Como se fosse a intelecção que à verdade vencesse
E os que chefiam não fossem homens cônscios e de querer

Há por aí maliciosas vozes
Maliciosas
Palavras maliciosas
Maliciosamente
Ambiciosas

No caos de uma maré vasta l João Marques Jacinto

No caos de uma maré vasta
Se afundam sonhos de tantos
E na loucura da corrente
Se quebram portos de iludida seguridade
E há ventos que cruzam a dor para salvar
Na força da liderança inequívoca
Sóis de palavras impelem ao renascimento do Verbo
Que se diluiu na esperança de quem idolatrou

Horas de espanto pela incerteza do tempo que de muitos se fez espera
Sem que o sossego habitasse na procura
Se apagam no infinitesimal da eterna noite

E no fim de cada escada se abre portas de ruas
E nas falésias de cada olhar há praias de descobrir
Nuvens por abraçar
Almas de pássaros para que se destinem asas aos voos da equidade
Sorrisos no canto florescendo em êxtase como borboletas tocando a flor
De vozes que vibram da mais ínfima estrela brilhando
Do universo de cada ser
E um rio nasce nas profundezas dos alicerces
E cinge o céu
Alimento de sentidos caminhos
Colore as margens até à razão
Reflexo de rostos proibidos
Memórias exasperadas
Caindo na foz presente
De todo o sempre
O caminho manifesta-se nas veias de quem corre
E um coração se agita alquimicamente no desejo de se completar
E o amor é a mais valedoura virtude por definir
E o saber escolhe quem ensinar
E a morte é o fim mais singelo
No caos de uma maré vasta
Há sempre um chão a plantar
Um Eu viçoso a contemplar
A manhã da diferença por assumir

E haverá sempre um Eu l João Marques Jacinto

Os que se encontram a sul
Prendem-me ao que já não serei.
Os que ocorrem a norte
Constam desta metamorfose,
Que flui, até onde tiver de chegar,
Enquanto ao centro do Todo
Cingido pela esfera dos deuses
Sofro o equilíbrio do sem tempo,
Ao eterno caminho do agora.
E um rio são meus pés,
E a glória um rochedo que me pesa ao alto.
E haverá sempre um Eu à minha espera,
Fazendo-se passar por outro(s)…
E o primeiro choro é o da criança
E o derradeiro, é o do saber, em silêncio,
Por o que se provou
E do que ficou por haver...

E os Nodos trespassam a alma
Apontando o sentido da digna fortuna

Libera me ab omni malo l João Marques Jacinto

A crueldade humana assusta-me
Temo o que haja em mim
Que desconheça
E esteja no genes
A ancestralidade é um mistério abismal
Submergida Sombra que oculta
O que quer assomar
Zelo-me em lucidez que saiba
Mesmo que haja o momento mais impessoal
Que me queira transmutar
E fazer de mim o mais repugnante dos animais

Libera me ab omni malo

Berço de Poesia l João Marques Jacinto

É por entre estas paredes
onde escrevo o que me digo,
que habito nas horas mortas
e me refugio em silêncio,
das exigentes rotinas de vencedores,
das expectativas a viris respostas,
do confronto em esforço com a dúvida,
da carência de quem mal se conhece...
Fecho-me neste berço de poesia,
onde atentamente tudo em mim observo,
rendido ao incentivo da procura,
na solidão que me conforta ao (re)encontro
do que fui, desde sempre,
e não me lembro,
até onde, por fim me completarei,
mesmo que esteja, longe desse entendimento,
em misterioso labirinto.
Estimulado, pelo desejo de liberdade,
a vencer-me no preconceito,
a lutar contra todos os medos do medo,
e a provocar a escrita ao movimento,
e a protegê-la de maus olhares...
Para que em brincadeiras de palavras
me construa à vontade, nos degraus
do que me eleva,
e provoca emoções
e me dá sentido...
E haja quem me queira
tão somente
pelas palavras,
e se sirva de minhas palavras,
se delas souberem mais de si
e de como brincar,
assim comigo,
para que se seja poesia,
para além de qualquer palavra,
e mais do que poeta.

A minha religião é a Poesia l João Marques Jacinto

A minha religião é a Poesia
E sigo extático
Os que tecem o pensamento
Com a pulcritude mística da palavra
E rezo a filosofia da alma
Em cada linha de um poema
Com asseveração 
No delubro do grande Verbo

Primavera de Todas as Espirais l João Marques Jacinto



Que mais sou hoje
Se ainda conto as horas de sempre
Sem que se me assombre
Qualquer sentido de todos
Apertado o vento fora pela esquina do pudor
Que pretendido se inventara da fraqueza do que não se venceu no medo
E malogrado o ninho se achara desfigurado e perdido ao poder
E se fez a imagem à mentira
E a eternidade à escuridão
E a ambição voou até às mais altas montanhas urdidas
Pelo pensante pequeno, que se acreditara na inteligência
E reis se elevaram aos tronos das inverdades
E a uma só Sombra povos se subjugaram
E indignos se fizeram pelo atrevimento de se assumirem no sonho
Que era a exactidão não inteligível pela nuvem
Do que não se pretendia e assim deveria ser aniquilado
E ainda em chamas tudo o que ardera
Se fizera purgatório de dias a fio
Sem margem à obliquidade dos desafios do ser
E todos morremos antes de termos sido iniciados
E mortos persistimos sem voz ao cântico da plenitude
E na loucura do ego vence a infelicidade da perfeição
E obscuridades continuam a habitar os alicerces da alma
E sós olhamos para as horas do que é tarde
E perdidos navegamos no mar da esperança despojado de ondas e de colore
E somente sentimos o que nos avista sem horizontes de lucidez
E outros continuamos sendo sem que o despertar ecoe nas veias da vontade
Quereis continuar como percevejos presos nas malhas de uma obsoleta e condenada teia
Sem que sabeis o que vos traz o dia e a glória da primavera de todas as espirais
Que trazeis no conhecimento maior de toda a natureza que em vós flui desde sempre
Sem que vos limpeis da ebriedades de estórias que alucinam e devastam a história

Sejais não mais mas o que apenas sois e o mundo se tornará boamente iluminado

Tudo é um mistério l João Marques Jacinto

Tudo é um mistério,
até ao que me proponho,
sem nunca perceber bem a razão
do que ao certo me motiva
e me impulsiona
a esta constante procura
e mutação.
Os versos são como rios
difíceis de trancar
dentro da nascente,
de todas as recordações.
E pesado é o mundo
que carrego,
sem nunca entender,
se é mal
ou bênção.

Mas, valha-me o amor,
por que só nele
me acredito
e conduzo,
mesmo como poeta,
esperando que a vida se escreva
mesmo de poucos cantos,
mas belíssimos,
em poesia.

E prosseguirei a espera l João Marques Jacinto

Como seriamos imensos
Se obedecêssemos ao que nos dita o Universo
Porque o assediamos com frequência 
Tivéssemos sentir e entendimento para erguer o leve véu que nos quebra luz
E nos víssemos o bastante para atingir
Como nos empederniu as estratégias por amparo ao longo de tantas ventosidades
Sem que antes a erosão provocasse vizindade à dimensão da liberdade dos deuses que sonhamos
E os rios asseassem as margens da alma em vez de delimitar a corrente que se esboça nas emoções
E contrai ao desaguamento do que parece ser infinito
A presa fácil
A que sempre atou o constrangimento ao depois
A verdade mor da nossa existência
E como transladá-la aos dias de descalço facto
Que é cerca que fugimos
E soubéssemos seguir o que profundamente cristalino alvorece aos sentidos
E busca o contentamento profundo pela matéria harmonizada pelo desejo
Na concordância desocupada de eras
Com o que de intenso nos dá a arte de sermos visceralmente humanos
E sábios ao poder das durações
Para que cheguemos a ser o Amor que descobrimos existir
Cerrássemos os olhos para atentarmos as cores das palavras que iluminam os céus que se espalham em nós
No mundo sublime que poderemos sempre alcançar
E na humildade de sermos desmedidos
Abraçássemos a união do perfeito
Sem intenção de julgar ou (re)criar suspeita ao que nunca será
Se a fusão in pântano se realizar na alma da ancestralidade que guia

E prosseguirei a espera no cume da buena-dicha
Ainda desconhecendo o fogo a que tanto demora

Afonso l l João Marques Jacinto

Fostes
o princípio,
príncipe,
o primeiro,
o melhor,
guerreiro,
filho indigno
(por parte de mãe),
por mui nobre causa,
pátrio,
Ares da nossa coragem,
bravura e glória
deste lusitano fado,
fidedigno conquistador,
cavaleiro,
nosso amo,
senhor,
rei da criação,
santo
(canonizado
pelo povo).

E fostes lírio
nascido aos pés
de immemorabile acácia;
a mesma que coroou
de espinhos
outro rei.

Os poetas,
os inconformados
e os que ainda crêem
evocam-vos,
para que encarneis,
urgentemente,
Portugal.

Início l João Marques Jacinto

Início
é referência.
Caminho
é união.
Fim
é propósito
e (re)início.
E inteligência
é tudo.

domingo, 27 de janeiro de 2019

Fado l João Marques Jacinto



Sou pedaço de vida
Deitado na Sombra
De uma multidão
Sou força vencida
Mergulhada e perdida
Em desilusão
Sou dor viciada
Em choro e pranto
Sem poder fugir
Sou no sofrimento
O espelho do tempo
Sem nunca o medir

Sou um rosto secreto
E incompreendido
Na palavra sim
Sou um resto de gente
Vergado ao silêncio
Não se riam de mim
Sou povo enjeitado
Em nudez de encanto
Carrego minha cruz
Sou um fado pesado
Compasso trinado
Um canto sem Luz

Se digo o que sinto
Se minto no que sou
Não o faço por querer
Não me disfarço
Nem me escondo
No falso sentido
Do que acabo por ser

Se me dou e desfaço
Se luto esquecido
Vivo insatisfeito
Sou no cinzento tristeza
Verbo conjugado
Pretérito imperfeito
Sou um rio parado
Sem margens sem leito
Sem fundo sem foz
Uma barca sem remos
Sem redes sem leme
Sem velas sem nós

Sou tarde poema
De versos sem rima
Lenta de se pôr
Por entre o nevoeiro
O que desaparece
E se apaga de cor
Sou um resto de gente
O que falta do início
Um caminho para o fim
Vergado ao silêncio
Vergado ao silêncio
Não se riam de mim

Olhar É Muito | João Manuel Jacinto


Olhar é muito
Gosto de procurar o infinito
Quando os meus olhos se perdem nos teus
E viajo ao pensamento da mais profunda abstração
Onde mora o entendimento que não sabemos coligir
E abro-me num sorrio de prazer de deuses
Pelo oceano onde me levas como ninfa ou sereia
E cerras timidamente as pálpebras quebrando de mim teu belo ver
Deixas sumir-me em anseio sem saber mais sem te ser mais
E agarro a tua mão e dás-me a mão
E não há mais espaço que nos desagregue
E o beijo de todos os que se amam arde além-lábios em nós
E não há mais forma para tanto sentir não há razão que nos desenlace
Viole a liberdade de descobrir amar

Olhar é muito
Nunca deixes de olhar para o amor que te sente
Para que sintas sempre amor no olhar
Não deixes que nada nos impeça a este olhar

Se eu voasse l João Marques Jacinto

Se eu voasse
Ao céu de toda a fantasia
Somente aves e aviões
Eu teria para colmatar minha solidão
Como companhia

Veste tuas asas de coragem
E vem planar no topo de toda a aventura
Para que no tempo que reste
Haja ainda o que se perdeu e é
E se descubra o ninho da intensa Primavera

Se eu voasse
Devolver-te-ia todo o azul
Onde desenhássemos acima do horizonte
O arco de toda a aliança

Quatro árvores l João Marques Jacinto

Quatro árvores
Durante cerca de duas décadas
Conseguiram criar raízes no meu coração
Fazendo sombra à minha Sombra
E dando-me por entre os verdes de todas as horas
A lúcidez do inatingível
É sempre uma ventura ter vida que nos ampare o caminho
Com a discrição que distingue a sapiência de uma eternidade
Receptáculos de todos os universos
Na minha passagem mais secreta


E tão simplesmente árvores
Ao primeiro olhar

Já não é tempo l João Marques Jacinto

Já não é tempo de falsas crenças
Nem de sermos in banho de multidões
Olhemos apenas o céu que com cada um condiz
E também quem está a nosso lado de mão estendida ou quer abraçar
A felicidade está onde não a procuramos
E na simplicidade de ser somente quem somos
Resignados a qualquer fim
Depois de despertos para todo o saber que nos amanheceu
Saibamos ganhar o hábito de não ter hábitos
E desfazer vínculos à utopia que quebre a liberdade que quer bem
Jamais deveremos admitir o que limita à descoberta da essência da fé
Para que descubramos o deus maior de cada existência

Divícia l João Marques Jacinto

Divícia
Não pelo que se possui
Sim como se gere

O preço dado às coisas
Revela o valor de cada um

A herança maior de qualquer ser vivo
É o bem da vida
Que melhor viva
Para além de tudo

Se sei fazer melhor não sei l João Marques Jacinto

Se sei fazer melhor não sei
Talvez se ousasse ser o que sou
Compreendesse todo o sentido do sentir
E se abrissem outras portas de mim
Para que voasse para além da anilada cúpula
Que sustento e tanto pesa de infinito e sóis
E me soltasse das raízes cada vez mais fundas por sede
Nascidas pelas passadas de outros que inibem esta figura à autenticidade
Trespassasse qualquer espelho polido por tantas águas
Para que do avesso me olhasse
E te visse como já fui
Todo o animal morre durante o caminho
Quando o fim está na pressa de chegar onde nunca esteve
E queira tão somente agradar quem diz que ama e aceita
Sem que nunca se ame e se aceite e seja e viva
Só me debruçarei sobre a paisagem
Para sentir o que lá há
Depois de me esgotar ao que vim e faço
Se houver alguém que repouse na tranquilidade dos dias
É unicamente fogo-fátuo
Por muito que se queira saber nunca se sabe o que se saber
Qualquer pretensão tem um maior carrego em outro lado
E divino é quem não crê para se salvar
E terreno é imaginar-se deus para se redimir à sua condição
Se sei fazer melhor não sei
Faço o que sei para o que serei
Sem nunca ser o que desejo ser
A barca navega em mim
E timoneiro é o tempo
E nunca é tarde antes de anoitecer

Infindo imaginativo l João Marques Jacinto

O meu corpo pode levar-me até ao fim da minha rua
Minha mente  não sei até onde
Basta que devaneie para que velozmente se transcenda pelo infindo imaginativo 

Bom é quando meu corpo fica nave de todas as sensações
E se descobre capaz de ir além da minha rua
Sem que se importe até onde a ideação o deseja realizar
Sem que nunca me afaste de onde sou

Nem sempre o entendimento de outrem é meneável o suficiente
Para que corpo a corpo se vença os bloqueios de muitos caminhos

De Fernando l João Marques Jacinto

Tantas pessoas em
Pessoa e
Mais Pessoa(s)

Somos Pessoa
de Fernando
Por se cumprir

Apessoado
Poeta
Iluminado
Mar Pessoguês

Império l João Marques Jacinto

Depois de Nicéia 
E do Édipo de Tolerânica
(Pela Revolução da Cruz)
Tornou-se lentamente poderoso
Temporal o império
Que dificilmente de outro modo resistiria
Alastrou-se mais tarde por novas terras
E impôs-se a todas as almas
Como único representante da verdade (e) do Divino.

E continua Roma
A ser a capital da civilização do medo
E desassossego da fé
Os bastidores do poder
E da fortuna
De um império de coração vazio

sábado, 26 de janeiro de 2019

O sonho da pobreza l João Marques Jacinto

O sonho da pobreza
É ter o que causar invídia
Aos que também se prestam a ostentar suas posses
O sonho dos que se enriquecem
Nos engrandecem
Passa por apenas ter o que são
Em cada átimo
Para que gananciem em tolerância
Ser tudo o que os outros
Porventura jamais conseguiram ser

Ansiosamente l João Marques Jacinto

Tanta pressa
de viver,
de ter tudo
e ser nada.
Avoco,
nos dilemas,
o vício da insatisfação
e nascem,
prematuramente,
enigmas.
Invento-me
ao prometido,
sem querer
esperar o hoje,
ansiosamente
só.

Crio
disfemismos
à vida,
em desiludida
felicidade
de mim.

Que mais l João Marques Jacinto

Que mais poderei ser
Senão o amor que procuro
E não haverá termo que omita este sonho
Nem sabedoria que evoque esta razão
Somente em mim há precipícios ao (des)contentamento
Um tombar de pássaros inconsumptíveis nos voos de meu páramo
E não há cores para este branco
Nem sopros que despertem na obscuridade manhã
Nem âmago que dialogue entre si a mesma verdade
E intrepidez que quebre com malevolentes reminiscências

Que mais poderei ser
Senão o amor que procuro
Até que na circunstância do Incriado
Se intersecte o outro mundo de mim
No eu mais límpido de outro

No início rasguei os retratos que havia | João Marques Jacinto

No início rasguei os retratos que havia

E queimei calendários de todas as datas

Parti todos os relógios que ainda funcionavam

E muitos foram os espelhos
Por mim estilhaçados que brindaram o chão

Depois desenterrei a maior raiz que sabia
E pu-la ao Sol a dessecar

E fiz um apelo aos deuses
Sem que obtivesse qualquer resposta

Por fim descansei
Na expectativa de que despertássemos

Perfeição | João Manuel Jacinto


Não queiras ser perfeito
Ama somente aquilo que fazes
E faz tudo com amor
E por amor
E assim te encontrarás
Bem mais perto do que te fizeram crer
Querer ser perfeito
Mas sem que alguma vez
O que fores
Seja por perfeição

São tantos essoutros a doutrinar
Que difícil se torna preferir o caminho
Olha-te
Aprende a ver-te
E escolher-te
Mais que tudo
E todos

Na expectativa l João Marques Jacinto

No início rasguei os retratos que havia

E queimei calendários de todas as datas

Parti todos os relógios que ainda funcionavam

E muitos foram os espelhos
Por mim estilhaçados que brindaram o chão

Depois desenterrei a maior raiz que sabia
E pu-la ao Sol a dessecar

E fiz um apelo aos deuses
Sem que obtivesse qualquer resposta

Por fim descansei
Na expectativa de que despertássemos

Sonho l João Marques Jacinto

Se me libertasse de tudo o que houvera existido
Já não existia
Mesmo que seja escasso
Sou sempre mais do que queria
Não por planejar
Mas por encargo
Sem que haja sossego à mote da essência
Para que no sem tempo do agora
Conquiste um tempo que me invente
E o sinta perdurável ao que não me é percetível nos ritmos de todos os relógios
E similares incumbências, efectuações tabeladas à idade

Invenções de mentes esplendentes geniais
Que exercitaram o poder e ensejaram a submissão e escolheram os conhecimentos que anulassem a individualidade e os pensadores

Como se eu fosse contável por horas ou dias ou anos
E não me distanciasse para me esquecer do lado mais perverso do amor humano
Não sei a minha idade
É ao bater do coração que sinto as badaladas dos meus instintos desejos afectos das recordações
Às vezes pergunto-me por ti
E não me oiço
E não respondes

Vejo-te não de longe
Mas numa vida ao lado
Conhecemo-nos
Não falámos o suficiente para que fosse suficiente
Mas foi suficiente por o que nunca dissemos
Um encontro de olhares reveladores
Nem que tenham sido aparentemente simples olhares aos olhares simples dos outros
Mas que persiste no bater dos corações a cumplicidade do uníssono.
Há quem no silêncio
Seja capaz mais de entender os que os sons nunca despertam

O óbvio para mim é a antítese
Do tanto que tenho para dar
A quem ainda nunca me soube
Mas que sente a tentação de me escolher

Há rios que terão de galgar as margens
Há ventos que irão erodir a obediência do mestre preso ao mesquinho receio de errar perante os seus discípulos

Se me libertasse de tudo o que houvera existido
Já não existia
O sonho sempre existiu
Nunca o quis matar para que eu não morresse
Dele nunca me poderei libertar
(Para bem de todos os que tendem a mergulhar no pântano do indecifrável)
Há que vivê-lo nem que seja no êxtase em simbiose com todas os prodígios que motivam sentir.

E sinto o arbítrio de me quer fazer voar sobre o céu de ti
Difícil é ter temperamento de tempestade
Parecendo o paraíso

Que mais consistente e lógico nos motiva
Senão os sonhos que têm sempre de nos haver
E que levem a acreditar no grande Sonho
Mesmo que nunca se concretize
Mas, não nos falte esta magia
Dos sonhos
Sonhos
Do sonho

Si-mesmo l João Marques Jacinto

Tudo é criticável
Mas poucos são os que nada dizem
Por muito saberem o que de facto são
A crítica é a melhor exercitação
De alvidramento
No alvoroço do contraditório
Que leva ao silêncio
Da ciência do Si-mesmo

E eu seria l João Marques Jacinto

O que te poderá levar a que me saibas
Para além daquilo que tu não és
Somente te permites saber
No pouco que em ti entendes
Se não houvesse Sombra
Que te doesse
Então descerias
Com elevação
À intimidade que nos soubesse bem
E serias maior e mais
Serias muito
E eu seria também

Amanhã e depois l João Marques Jacinto

O conflito pela sublimidade
impacienta o entendimento
dos que se preservam
no caminho das estruturas,
viciados num poder
que se absoluta e se contrai,
sem vislumbrarem as derrotas
necessárias à evolução.
Nos céus desenha-se
com ângulos de tarefas,
a ordem temporal da vida
sujeita ao caos.
A dona da noite cai
no túmulo sagrado,
enquanto o guerreiro se exila
na persistência do tesouro.
O vento sopra do mar
coagido de incontrolável
tempestade
com o intuito de dissolver
o reino obtuso e circunflexo,
acastelado de desumanidade.
Soltar-se-ão as esperanças,
na confusão do terrífico
e os que julgaram ter morrido,
estarão renovados de consciência.
Outros sucumbirão cegos,
inabaláveis no orgulho,
e mesmo que sobrevivam,
não mais serão lançados
ao levante do conhecimento.
A noite será assombrosa
de inquietação,
sem vigília que a ilumine
e os uivos dos lobos
enfurecidos de frustração,
famintos de vingança,
perder-se-ão num deserto qualquer,
sem dunas que os amparem,
nem cadeira que os sustente,
amanhã
e depois.

Nada l João Marques Jacinto

Nada no rio de teu infinito
Por entre Tânatos e Eros 
Margens a (sobre)viver e idealizar
No equilíbrio da corrente
Que leva à foz de todos os mares
Onde começa a vida
E te acharás absoluto

Sentir l João Marques Jacinto

Posso querer sentir
Mas só sei o que sinto
Quando sinto
E se com quem sinto
Mesmo que não seja bem aquele sentir
O que sinta
Porque há sempre outro sentir
Para o sentir
Ou sentir
Até que se sinta o que se faz sentir
Por sentir sentir
E seja sentir
Todo o sentir
Para que me sinta
E seja sentido
E o que se sente

Câncer l João Marques Jacinto

Sabia-se que alguma coisa estava mal
Mas não era suposto ser tão grave
Há sempre esperança de que nada aconteça pior que antes
E surja aperfeiçoamentos que levem a uma cura admirável e que mais não sobrevenha
Não é conveniente que se pressinta
O segredo da decadência é importante sustentar
Não dissolve um qualquer homem pela sua suposta lucidez o que se construiu desde sempre de embustices por uma malha de bandos e poderes
E é conveniente que o delírio seja sempre um bem-comum não traduzível e contestável
É difícil perante tanto confrontar o que contrarie o sonho que está em outro sonho
E que também é idealizado dentro de um sonho
E ainda o sonho que se procuro em tantos sonhos
E o sonho se constituiu razão
E a razão abafa castra quem sonha com o sonho da condição mais inocente
O sonho que questiona o que não deveria nunca ser controvertido
Sabia-se que alguma coisa estava mal errada
Mas não era suposto ser tão grave
Foi hoje diagnosticado um câncer incurável à Humanidade
Não foi dito (não se sabe ao certo) quanto tempo mais haverá até perecer
O que foi sonhado foi que a multiplicação desordenada não será mais possível suceder

As coisas que faço l João Marques Jacinto

As coisas que faço,
nunca foram por ti,
como me convenço
e aparento.

Esta altruística máscara
esconde quase sempre
a face do meu egoísmo.

Aceitando-me em tudo
e ter nada,
é tudo;
nada mais resta
para se ser animal
e deus,
poder receber
e dar, também.

Sim ou não l João Marques Jacinto

Já não sei,
se não sei o que quero
ou se não quero
o que já sei.
E sim,
pode justificar um ou outro não.
E não,
pode até traduzir o receio de um eterno sim.
E não
pode ser sim,
mas querer-se não.
E o sim faz-se não
mas poderá também voltar a ser afirmação.
E o sim,
quando, é sim, é sim,
até que seja vencido,
por outro sim
ou por que não.

Nada se afirma ou nega
para toda a vida;
sim ou não?

Já não sei
o que é sim,
nem o que é não.

Nem tudo l João Marques Jacinto

Nem tudo, o que me aconteceu
no berço,
balança na minha inquietude.
Já nasci (pre)disposto
a alguns movimentos
e a certas pessoas,
e sou infinitamente aparentado.

Não sei
por que não tenho quaisquer lembranças
do início,
nem mesmo de quando vim aqui, assim.
O que sempre muito me marcou
nunca foi fácil esquecer,
nem (me) perdoar...

O pormenor encadeia,
e inibe a liberdade de coragem.
E não há verdade
que explique a totalidade.

E o fim
nunca se completará.

Do que somente tu l João Marques Jacinto

Nunca sentencies os outros,
por aquilo que és.
Aceita-os apenas como se apresentam,
e confina-te a constatar
o que em liberdade conseguem conceber,
para que aprendas a reverenciar
a tua própria individualidade. 

Tudo é bem mais,
do que, o que mal se vê
e somente tu.

Ambiciono l João Marques Jacinto

Deverei contestar
os males do mundo,
ou confrontar
a minha (im)perfeição?

O que me nasce
ao caminho,
vem-me de dentro,
e tem a dimensão
do que mereço
e o peso de tudo
o que (re)colhi
e acumulei,
e mal vivi.

Não é o que possuo
que me enriquece,
mas o que livremente
tento conquistar,
desnudado,
em mim.

Ambiciono
o que é simples
e a manhã.

(De)corre l João Marques Jacinto

Tudo (de)corre
nas profundezas
de mim;
um palco
onde me represento.
Tudo o resto
é mera ficção.

Em esforço
materializo,
e constantemente
me tento
e me repito,
e erro,
existo...

E construo-me
a todo o momento
em caminho,
ao Eu que tão sabiamente
me espera.

Se a morte é certa | João Marques Jacinto

Se a morte é certa
e a vida incerta
há que viver
certeiramente.

JJ

Há deuses l João Marques Jacinto

Há deuses no céu
de nossas cabeças,
que teimam em nos cansar,
por tanto crermos
que nos sejam servis;
por causas banais
ao que ficámos presos…
Quando há um universo
de tanta coisa por descobrir
e gente de corpo e alma
para (nos) abraçar
e outro(s) deus(es) a louvar
na liberdade de todo o possível.

Cada um de nós é parte do mundo,
mas não é (o) mundo.

Poucos são l João Marques Jacinto

Poucos são os que crescem
e têm coragem
de se confrontar
e vencer,
para que se cumpram…
A maioria perde-se
com o olhar
e na cobiça...
Negando-se ao tempo,
que é tão pouco,
quando tanto há por fazer.

Inteligência l João Marques Jacinto

A inteligência reina
Em todas as selvas
A justa predadora
Reclama-a
Como exclusiva
A ignorância

Indaguei-me l João Marques Jacinto

Indaguei-me.
Procurei-me nas origens,
descobri a escuridão.

Sou o trabalho
e a persistência,
sou a luta,
que constantemente se vence,
para que eu seja outro
e nunca o mesmo.

Ainda, ontem rastejava.
Hoje, distingue-me,
já não a postura,
mas o que escrevo.

Inventam-se mundos,
para que me (re)criem
e eu me iluda a essa importância,
e dependa,
esquecido do que valho.

Sei de mim
o suficiente,
para honrar todos os progenitores
e olhar a vida,
como o milagre.

Se não fossem os aviões,
já me teriam nascido asas.

Hoje l João Marques Jacinto

Hoje o céu se desenhou durante a noite até que se erguesse a consciência no horizonte de todas as manhãs
E brilhasse no fim deste oceano a esperança que sempre nos traz a Primavera

Olha para o que te deixa o vento no mar da tua essência
E como tanto está cada vez mais perto de ter sido
E o rei retorna ao trono do caminho onde também eu me espero

Sol de todos l João Marques Jacinto

Há uma Lua em nós
Que outrora nascera
E era dia
Mergulhada num pântano
Cerrado de medos e (des)ilusões
E nela se espelha
Abaixo do horizonte
Já posto
O Tempo enraizado
Firme na convicção
De que perdurará aquele momento
A Lua quase apagada
De tanto morrer
É surpreendida com o tempo do Tempo
Que se desprendeu da terra do ouro
Para lhe tocar com uma noite quente
E um último beijo
E fundem-se na inquietude
Para que se salvem almas
E um novo Tempo descenda

Tudo tem um termo
Para que haja a sorte
Do Sol de todos

Se o que verdes por aí ainda estiver verde l João Marques Jacinto

Não olheis para o lobo como se fosse unicamente fera
Nem para o cordeiro como se tivesse apenas génio brando

Há uma selva em nós por assentir
Um sentimento-mor a patentear 
E uma História a reescrever  
Para que não nos concebamos mais no engano
E alcancemos o viridário que nos vigia

Se o que verdes por aí ainda estiver verde
Vede o muito que ainda há para ver

Todos falam l João Marques Jacinto

Todos falam de Amor
Como se houvesse alguém
Que soubesse verdadeiramente o que é amar

Amor é muito mais do que este (a)mar
E a rochosa praia onde tudo (re)começa

(Só a mim dedico este poema)

Felicidade l João Marques Jacinto

Tristeza
Por meu desmedido ego(ísmo)
Alegria
Por meu imperecível amor
Felicidade
No agora
Sem quaisquer lembranças
Eu e mais Tudo
Um

Aprendo a sorrir
De peito aberto para o mundo
Em vez frente ao espelho

A nada me devo negar l João Marques Jacinto

A nada me devo negar
Para que no que surja escolher
Haja a certeza por tudo o que vivi
E em mim também foram
Desejaram
E souberam
Sem mais fazer de minha obscuridade
A ínfima desventura
De quem honestamente se quer sentir
Na franqueza de como se dá
De ser a verdade mais próxima
Em qualquer lugar
Com quem me ache
E jamais o risível da medida
E Sombra de multidão
Ou aviltamento por desagrado
A expectação excessiva do triunfador

A nada me devo negar
Para que me consiga fazer
Possuir
E sentir
O que de facto me foi atribuído
Como ente

Mudança l João Marques Jacinto

Incentivam-me à mudança
Como se eu mandasse no Universo

Do início à morte
Sou apenas os passos
Que o caminho ordena

Para quê fugir
Quando o beco de mim
Não tem saída

E assim me levo
Acreditando no maravilhamento
Que desvaneça qualquer sofrimento

A cenoura do meu asmo l João Marques Jacinto

A vida me foi persuadindo
De uma maneira ou de outra
Com uma cenoura mesmo à frente do nariz
A cenoura enfim se consumiu
E eu sem nunca a ter tomado
Ou então alguém a seguiu
Por já não ter outra por que correr
E eu ou prossigo à cata ao que a cenoura me queria crer
Ou definitivamente abato o asno de toda a minha imbecilidade
E assumo somente os desafios do agora

Intelectualidade do umbigo l João Marques Jacinto

Gosto dos medíocres,
quando a sua mediocridade
passa por não quererem ser demais,
mas apenas excelentes
no melhor que são e fazem,
por bem.

De deslumbrados
andam os ouvidos cheios,
sem que o essencial desça à rua;
a intelectualidade do umbigo
não é cebo para o pensamento.

Pensa l João Marques Jacinto

Quanto menos disseres,
mais maturo serás.
Porque se souberes escutar
entenderás o barulho.
Pensa.
Pensa; não deixes de pensar.
E jamais te distraias em silêncio com outras palavras.
Cria no silêncio de ti,
o Verbo que ressoe
e seja apenas proferido in alma.

Nunca te atraiçoes
usando os outros, em palavra,
como roupagem de vis silêncios.

Pensa.
Pensa com simplicidade.
E sente o que te podem trazer os ventos
que nunca param de suscitar.

Que Deus é esse l João Marques Jacinto

Que deus é esse,
Que possibilitou que um só homem
Gerasse dois filhos
E deles descendesse
O imperecível guerrear,
Que se justifica,
Somente por ele
Existir?

A fé pode até salvar,
Mas a religião tudo corrói.

O amor é l João Marques Jacinto

O Amor é tão abstrato,
Como incalculável é o Universo.
Se amassemos como O deciframos,
Não seriamos o que somos,
Não existiriamos.

Que nunca se confunda Instinto com Amor.
Nem mesmo o que sentimos,
Como verdade.

Feridas l João Marques Jacinto

Há feridas que nunca cicatrizam
Outras difíceis de sarar
As que acabarão por cerrar
Deixam verdugão
Se extinguirá com o tempo
Tal qual lembrança de profundo trauma

Olha-me l João Marques Jacinto

Se te esquecesses de todos os olhares
E apenas me visses,
Não numa imagem que de mim se possa fazer a qualquer contemplação,
Mas simplesmente como me dou diante de ti,
Na autenticidade da luz que atente,
Talvez te descobrisses num ver diferente,
E escassamente fosses o olhar que procuras na paisagem,
Onde tudo se confunde pelas semelhanças que nada proferem.

Se fosses quem és,
No que em ti visses, 
Jamais temerias a Sombra
Que sempre te acossa
E avistarias mais azuis
Acima de minha silhueta,
Onde apenas ressoam pássaros
Recriando céus para nós.

Livre sois de ver o amor
Que nos habita, quando cruzamos
Por entre disfarces o cerne da alma.

Olha-me com a atenção que merecemos.

Se l João Marques Jacinto

Se estivesse na vida por dinheiro,
Certamente estaria rico,
Mas seria mais pobre.
Nem tudo se pode ter,
Para que se atinja ser.

Na minha Terra l João Marques Jacinto

Na minha Terra
Não se nega a riqueza.
Indigna é a pobreza.

Na minha Terra
Há riqueza,
A distribuir,
Justamente.

Na minha Terra,
Também há muito pobre
De barriga cheia.

Igualar-se l João Marques Jacinto

Igualar-se
analisar
Para quê
o mesmo
sempre

Deixa-te
de ciência
e repensar
levar

Aceita apenas
o que te concerne

Não se pode nunca encarcerar
o que livre é

Não há verdade
para a verdade
nem tempo
para tanto saber

A Inteligência
é ininteligível
Impessoal
a divindade
inumana
inatingível
e o sonho
a realidade
do subterfúgio

Não quero ir ao céu l João Marques Jacinto

Não quero ir ao céu,
para além das nuvens de mim,
mas encontrar na Terra um lugar
que me permita imaginá-lo, ali,
e que aquele breve momento
me surja como eterno,
e só por ele valesse estar vivo,
onde o que é apenas sublime aconteça.

Será sempre já tarde l João Marques Jacinto

Ontem, será sempre já tarde
aos olhos de cada manhã.
Hoje, ainda é cedo demais até que tudo aconteça.
Mais logo nos virá a confissão
sobre o instante
do que será este futuro,
desde ontem,
até ao que, não mais haverá
e reste.

O instante que se perpetua
é o dos ponteiros do pesar.

Felicidade da Importância l João Marques Jacinto

Eu sou mais importante
Quando me dão importância
Principalmente por me relacionar
Com outros ainda mais importantes
É muito importante
Só me dar com importantes
Para que não me sinta sem importância
Todos os importantes
Mesmo que não sejam bem importantes
Mas porque há outros possíveis importantes
A darem-lhes importância

Politikós l João Marques Jacinto

Já não me circunda o muro
da cidade onde livre
deveria ser.

Hoje, sou um politikós
escravo.

Somos os que somos
mas só poucos são
e os que são,
pouco sabem haver.

E morremos
vandalizados;
a pólis esvai-se.

Vendo-me l João Marques Jacinto

Vendo-me,
não para usufruir
mas me comparar
ou superar,
destinguir,
seduzir...
Sobra tão pouco
para que possa gastar
no que me é essencial,
e diferente.

Sem querer invejo,
o que o outro inveja,
porque afinal todos invejamos.
E não saímos desta mesquinhez
de olhar sempre para o lado,
onde ficam aqueles que mais (se) iludem.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Se fossemos verídicos
Não enumerávamos histórias
Do que se afigura,
Porque se compara.
Pois bastaria apenas ser,
Em vez de corresponder
Aos apelos dos que também sonharam errado,
E persistem, sem que se entenda…
Ou ser-lhes-á benéfica,
E assim legitimada,
A perversão de tanto, pelo poder?

Ser o que se deve ser
Ou dever ser o que se sente ser,
No que se é
E deseja?
Se não nos livrarmos das máscaras,
Seremos sempre o outro dos outros,
Perdidamente sem Eu.


João Jacinto

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

No caos de uma maré vasta

No caos de uma maré vasta
Se afundam sonhos de tantos
E na loucura da corrente
Se quebram portos de iludida seguridade
E há ventos que cruzam a dor para salvar
Na força da liderança inequívoca
Sóis de palavras impelem ao renascimento do Verbo
Que se diluiu na esperança de quem idolatrou

Horas de espanto pela incerteza do tempo que de muitos se fez espera
Sem que o sossego habitasse na procura
Se apagam no infinitesimal da eterna noite

E no fim de cada escada se abre portas de ruas
E nas falésias de cada olhar há praias de descobrir
Nuvens por abraçar
Almas de pássaros para que se destinem asas aos voos da equidade
Sorrisos no canto florescendo em êxtase como borboletas tocando a flor
De vozes que vibram da mais ínfima estrela brilhando
Do universo de cada ser
E um rio nasce nas profundezas dos alicerces
E cinge o céu
Alimento de sentidos caminhos
Colore as margens até à razão
Reflexo de rostos proibidos
Memórias exasperadas
Caindo na foz presente
De todo o sempre
O caminho manifesta-se nas veias de quem corre
E um coração se agita alquimicamente no desejo de se completar
E o amor é a mais valedoura virtude por definir
E o saber escolhe quem ensinar
E a morte é o fim mais singelo
No caos de uma maré vasta
Há sempre um chão a plantar
Um Eu viçoso a contemplar
A manhã da diferença por assumir
João Jacinto

Hoje...

Hoje, os deuses descansam,
depois de tanto porfiar.
Amanhã, serão de novo estimulados,
pela incerteza dos ventos,
à disputa pelo avito de toda a simbolização do poder.
E as crenças vestir-se-ão de homens
E os homens acreditar-se-ão como deuses.
João Jacinto

Saint Louis

Saint Louis,
que mais nos irá afligir?
E assim deveríamos, até lá,
estar bem despertos,
ao dia em que partiste
já em território da rainha virgem...
Neste instante, se pressente a inquietação vinda da Sombra,
que agitará os mares da (des)ilusão
em conflito com uma espada
que fará de flecha do grande arco
para que se mate em Tempo;
desvaste ideologias e exacerbadas crenças,
instigue a novas estruturas...
E nuvens de pássaros apagarão a dona da noite,
com seus voos de fogo
e cada vez mais sumidas ficarão as estrelas
da mais recente constelação...
E por entre tantas incertezas
dos rios em saber seus leitos
a corrupta luxaria sofrerá enxurradas
e perderá mais uma de suas empedrenidas personas
no lodo que ela própria gerou;
afundando-se sem que se aviste
a mais quimérica barca de fictícia fortuna.
João Jacinto

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

E haverá sempre um Eu…

Os que se encontram a sul
Prendem-me ao que já não serei.
Os que ocorrem a norte
Constam desta metamorfose,
Que flui, até onde tiver de chegar,
Enquanto ao centro do Todo
Cingido pela esfera dos deuses
Sofro o equilíbrio do sem tempo,
Ao eterno caminho do agora.
E um rio são meus pés,
E a glória um rochedo que me pesa ao alto.
E haverá sempre um Eu à minha espera,
Fazendo-se passar por outro(s)…
E o primeiro choro é o da criança
E o derradeiro, é o do saber, em silêncio,
Por o que se provou
E do que ficou por haver...


E os Nodos trespassam a alma
Apontando o sentido da digna fortuna.