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sexta-feira, 31 de julho de 2009

Emparelhar

Diante de meu espelho,
amarelecido,
picado pelo tempo,
gasto pela constante passagem de imagens
em movimento,
nele reflectidas,
de inquietas poses
de quem se quer entender
e encontrar na volumetria da superficialidade,
exibicionista, falsa,
enriquecida de invólucro,
ocultando a pobreza
do vazio das paredes interiores
dos sentidos e da alma.
E a complexa insegurança
de sermos iguais,
parecidos nos alicerces dos genes,
na simplicidade do respirar,
ou no passar com a mão
depois de termos defecado....

Miro-me ao desejo da descoberta
de meu verdadeiro Eu.
Tento transpassá-lo
e encontrar-me uno
com a imagem.

Tenho no egoísmo dos meus passos
a desfocada timidez,
o medo de amar,
por talvez, ter sofrido constantemente na partilha,
padecido de clivagens por insídia,
que anteciparam,
no silêncio do tormento,
o rompimento de laços,
eternamente idealizados,
desgastados de virtudes...

Sinto arrepiantemente a frieza
da imobilidade do meu rosto,
esperando que se quebre o espelho,
ou me reflicta suficientemente belo,
para que possa eu sobreviver
e amar-me,
perdidamente só.
Mas pressinto a vulnerabilidade
da inconsistente arrogância,
a incapacidade de não resistir ao amor
e ter que me dividir, quiçá,
com quem me possa merecer.

Não quero, só, puxar a velha carroça.
Necessito, sim, de outro,
que a mim se aparelhe
e possamos ter a mesma condição
no percorrer da longínqua caminhada,
investindo com a força muscular do coração
na transparência das cumplicidades vivas,
desbravando as mentiras, os medos,
as forças malévolas, os desassossegos...

Nasça a luz
das cores fortes dos afectos,
da permuta do alimento
na corrente do nós,
do achamento do encanto de cada um,
admirado, valorizado
e espelhado no prazer do outro,
reflectindo um renovado
e fortalecido Eu...

E desnudados,
sem pele,
sem máscaras,
nem adornos,
no à vontade de estarmos sós,
deitaremos no berço
as emoções já esquecidas
dos medos
no crescer,
acompanhados,
companheiros.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Ser Seres

Oh, rei dos animais,
dono e senhor de toda a Terra,
que ainda ambicionas
apropriar-te de outros lugares
além céu,
quando te cruzares
no teu imenso reino,
(por exemplo),
com uma formiga
e a observares atentamente,
vê o que tão dignamente executa,
sem que interrompa,
mesmo confrontada
com a altivez da tua presença.
Fá-lo, se possível,
com ainda mais respeito
do que aquele que por ti tens,
assim como por todos
os que te são semelhantes e próximos,
aos teus olhos.
Pois, apesar de parecer frágil e pequena
é tão forte e grande como tu,
e como os teus demais súbitos,
mesmo os que são temíveis,
pelo tamanho e/ou perigosidade...
Se souberes, assim reconhecê-la,
com humildade,
admirando o seu belíssimo porte,
então, estarás perto
de sentires a grandeza de Deus,
e de entenderes o que apenas te chega
para seres o Ser
e todos os Seres.

(In)desejado

Colo-me ao chão
e agarro-me a todos os meus pertences
com garantia dada, de terem valor,
(mesmo os que não muito aprecio),
e que até me prometem,
dar alguma consistência
à existência que herdei,
serem eternos...
Por que tenho receio
de provar o céu,
e de até nem ser capaz de o viver,
ou de nem mesmo existir
como imaginei,
de não o merecer
e ser castigado,
e não passar de um sonho mau,
perder-me para sempre,
sem conseguir acordar
e voltar à terra.

E assim vivo
como se uma linha de horizonte
me preenchesse a alma,
sem usufruir felicidade desta riqueza,
nem experimentar a transcendência
de um sonho,
montado num possante touro
pelo deserto,
receoso da picada
de um (in)desejado escorpião.

Dissolver-se-ão,
camada por camada,
todas as máscaras,
até que me reste
o rosto da liberdade
e veja no espelho
a nobreza de todo o amor
e não a imagem
da inesgotável solidão,
e/ou a saudade.

E o meu pensamento ascenderá
e vibrará nos confins do infinito
e tudo o que sinta de bom
ser-me-á, aqui, retribuído,
com saber de abundância.

O medo...

O medo
do que se possa perder,
leva ao constante anseio
de conquista.

E nunca,
nada se possui.

País da criação

Neste país, imenso, da criação
canta-se em português
com a voz da alma
que, ecoa e vibra,
pelo cintilar
em todas as estrelas
desenhadas no firmamento
pelo grande Poeta e Criador,
porque em verdade,
também nos habita
poeira cósmica
e centelha divina.

Tal com o Sol
nascemos e nos pomos,
presos pelas leis da física,
à horizontalidade dos caminhos,
(cada um com o seu fado)
sujeitos aos ritmos dos ciclos,
em compassos solitários.
Mas a alma ascende,
se livre e consciente quiser,
e de mãos dadas,
em direcção ao alto
para que se cumpra
a real (r)evolução humana.

E no centro da enorme cruz
está a essência, a riqueza
de cada presente,
como este,
em que tão humildemente vos escrevi.

(E já passou,
para mim,
aqui,
este maravilhoso agora!)

Acordai

O fim do mundo,
o fim dos tempos...
Quem me dera
que fosse já hoje!

Mas ainda faltam tantos dias,
para que se persista neste inferno
de homens adormecidos na dor,
outros de virilidade ferida,
e muitos moribundos, por tão pouco...

Onde fica a coragem de cada um,
para que se faça acordar
da letargia da cegueira,
na madrugada de todos,
pela luz da mesma consciência
ao caminho de todos os futuros?

Bastará um ficar arredado,
para que não se cumpra,
em vitória, a Grande Batalha.

É no lado de dentro
que se descobre o mal
e as armas que o aniquilem
e o espaço a ser (re)construído de raiz,
também berço de afluente
que correrá em direcção
ao sol do meio-dia,
de um qualquer solstício de Inverno...

É no lado de fora,
que a pobreza
ainda se mostra
com arrogância,
iludida,
de rica,
mas já está bem morta,
por afogamento na imagem.

Acordai, acordai, acordai!...

O velho ego

Pelo conhecimento
chegarás a ti,
mas primeiro
terás de travar a grande batalha;
destruir o velho ego,
o que envenena toda a felicidade
e te prende nas profundezas
da obscuridade.

Mata-o de vez!

E deixa (re)nascer
essa essência,
que te é luz
e divina criação!

O dia de Deus

Continuamos infernizados
pelo poder de alguns homens,
que sempre nos tentaram governar
em nome de um deus
(recriado à época),
usando-o para nos castrar,
desigualar, pela intolerância,
e reduzir os insubmissos
e a inteligência
à insignificância...
Quando Ele nos quer
o bem da liberdade,
de mãos dadas com o próximo,
conhecedores do Uni verso,
tão grandiosos quanto Ele
e o amor, que só Ele conhece.

Chegará o dia,
de Deus,
que fechará o ciclo dos demónios;
Deus será Deus
e nascerá em cada homem
um templo sagrado...

E jamais,
por fanatismo
farão de Deus
um assassino.

Fá-lo...

No ceio
de todo o conflito
está o sexo;
os papéis
e a identidade,
a (pre)dominância
e o poder
do género...

E o amor?!
Fá-lo de ti,
na vertical,
viril essência
da condição humana.

Fértil
e mãe
é-nos a Terra.